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Palestra Teatralizada Para Pais

Roteiro

I – Metáfora do Navio

Ao avistarmos um navio no porto, achamos que ele esteja em seu lugar mais seguro, protegido por uma forte âncora.
Mas ali está em preparação para se lançar ao mar, ao destino para o qual foi criado, indo em busca das suas  próprias aventuras e riscos.
Os Filhos são como navios foram feitos para navegar mar adentro.
Os pais acreditam ser o porto seguro dos filhos. E são, até que eles se tornem independentes.
Os pais devem preparar seus filhos para que eles possam  navegar pelos mares da vida, correr seus próprios riscos e viver suas próprias aventuras.
Por isso jamais devemos nos esquecer de que os nossos filhos são como navios foram feitos para navegar mar adentro, mar adentro, mar adentro...

E que mar é esse?

Esse mar é a realidade que estamos vivendo, o contexto social e o momento histórico que estamos presenciando.

Para que possam auxiliar os seus filhos a navegar no mar da realidade em que vivemos, e potencializar as intervenções educativas junto a eles, vou partilhar com vocês alguns critérios de aprendizagem, que nós professores usamos no processo de ensino aprendizagem dos nossos alunos.

II – Critérios de Mediação

Não existe aprendizagem sem mediação. E os pais devem ser os primeiros mediadores no processo de aprendizagem dos seus filhos.

Para que possamos realizar uma intervenção consciente em nossa mediação como pais educadores iremos estudar alguns critérios de mediação que julgamos importantíssimos para realizarmos com eficácia o nosso papel de educadores junto aos nossos filhos.

Estudaremos os seguintes critérios:

1. Criação de Vínculo

Para isso vou lembrar a vocês algumas cenas do livro “O Pequeno Príncipe”:
No asteroide onde o Pequeno Príncipe morava ele possuía três baobás, alguns vulcões extintos e uma rosa.

Todos os dias ele regava a rosa, cuidava carinhosamente dela. Certo dia teve vontade de conhecer outros planetas, e partiu.
Depois de passar por oito planetas ele caiu na terra.

Na terra, ele encontrou com a raposa, conviveu com ela e na hora da despedida ela lhe disse:

“Foi o tempo que tu perdeste com a tua rosa que a fez tão importante e única em todo o universo.”
Imagem: Pequeno Príncipe

O Vínculo só se constrói com o tempo. Um dos maiores tesouros que oferecemos  aos nossos filhos é o nosso tempo.
Devemos priorizar alguns momentos da nossa vida para estar com eles. O importante não é a quantidade de tempo partilhado, mas a qualidade desse tempo, ou seja, quando estou com eles estou inteiro.

Vou contar o caso do balanço:

Certa vez, estava em um parque e vi a seguinte cena: um pai estava empurrando a sua filha em um balanço com a mão esquerda e na mão direita estava segurando e lendo um jornal.  Ao ver essa cena pensei: em um curto espaço de tempo esse pai continuará com o jornal na mão, mas não terá mais o filho para balançar.

Outra história:

“Certa vez, numa cidade do interior de São Paulo, uma professora deu o seguinte testemunho:
- Há alguns meses, eu estava com o meu marido e minhas duas filhas em casa. Cada um estava no seu computador.
Depois de uma tempestade enorme, houve um apagão. Toda a cidade ficou sem eletricidade. Nossa casa ficou um breu. Todos os computadores foram desligados. Fui até a cozinha e busquei algumas velas. Iluminei a sala com essas velas. Minha filha de 12 anos sugeriu que jogássemos alguma coisa, pois não havia nada a fazer. Todos concordaram. Ela buscou um jogo que estava abandonado no fundo de uma gaveta e começamos a jogar. Ficamos umas duas horas brincando. Foi gratificante para todos nós passarmos aqueles momentos juntos.
Após alguns dias, minha filha me disse: “Mamãe, seria tão bom se ocorresse um apagão por mês.”

Privilegiar alguns momentos para estar com os filhos, não apenas em um momento de apagão.

b - Estar presente na vida estudantil do filho

Vou contar a vocês uma história:

Certa vez, Paulinho, de doze anos, chegou para o pai e disse:
– Pai, estou participando de uma gincana na escola e o meu time está perdendo. Você pode me ajudar?
– Claro filho. O que você gostaria que eu fizesse?
– Tem uma tarefa, pai, que precisamos recolher jornal velho. Pra cada quilo de jornal, ganhamos um ponto.  Você não pode comprar e mandar entregar na escola para o nosso time?
– Não seria melhor você passar nos apartamentos pedindo os jornais?
– Isso dá muito trabalho e eu tenho vergonha.
– Então, vamos fazer o seguinte, amanhã quando eu voltar do trabalho, iremos nós dois de apartamento em apartamento pedir os jornais, ok?
– Puxa, você faria isso comigo?
– Claro. Combinado.
E assim fizeram. Recolheram o jornal e Paulinho o levou para a escola.
O time de Paulinho perdeu a gincana. Paulinho voltou muito chateado para casa e comunicou ao pai. O Pai lhe mostrou que na vida teremos muitas frustrações, e que é importante passar por elas para o nosso crescimento.

Podemos imaginar o que significou para o Paulinho essa participação do seu pai nesse evento escolar.

Partilho com vocês uma pesquisa da Fundação Social Itaú que diz que 70% do sucesso dos estudantes com relação à aprendizagem estão vinculados à participação da família na vida estudantil dos filhos.

Portanto, segundo a pesquisa,  sem a parceria efetiva dos pais  dificilmente a escola sozinha conseguirá cumprir o seu papel de desenvolver todas as habilidades necessárias para que os estudantes consigam sucesso no futuro.

Vocês receberam o convite e estão aqui. Se o fizeram é porque estão interessados e preocupados com a vida dos filhos, com o futuro que os aguarda.

Concluímos o quão é  importante a participação dos pais nos eventos escolares do filho.

Vou dar um testemunho da minha participação na vida escolar do meu filho Luan.

2.  Mediação da transmissão de valores

- Convicção nos valores que queremos transmitir aos nossos filhos, mesmo que esses valores estejam na contra mão dos valores pregados pela sociedade.

- Dar um significado das ações para além do “aqui e agora”.

- Quais valores transmitir aos nossos filhos?

- Como se transmite valores?

“Haverá um tempo em que os honestos sentirão vergonha de serem honestos.” Rui Barbosa

3. Mediação da significação

- Piaget – “Só se aprende aquilo que é vital.”

- Quando atribuímos significado às tarefas, elas são absorvidas como fator energético e como razão e motivação do comportamento.

- Devemos manter os níveis de motivação elevados através do significado das tarefas para que possa ocorrer o aprendizado das mesmas.

- É importante que as situações de aprendizagem sejam interessantes para quem está aprendendo. O significado leva a um envolvimento ativo e emocional da tarefa a ser executada.

Para isso são necessários três requisitos:

Exemplo do prof. Marcos Meier:

“Não há diferenças básicas entre a omelete que eu faço e que minha esposa faz, porém meus filhos falam da “maravilhosa e deliciosa omelete que só o pai sabe fazer”. A diferença básica é que ao fazê-la, faço com que eles participem. São eles que cortam o tomate, a cebola e o queijo. E quando o fazem, faço-os perceberem as diferenças de cores e cheiros. Quando quebram os ovos e batem com o garfo aquela mistura, falo sobre o quanto é diferente cada um dos ingredientes, e que mesmo sendo assim , se tornam um único prato.

Fazemos tantas outras brincadeiras, que o s alimentos deixam de ser apenas alimentos e passam a fazer parte de um contexto de alegria, de compartilhar, de risos e brincadeiras. E como consequência, ao final, não temos apenas uma omelete para comer. Alimentamo-nos de uma gostosa comunhão que ficará para sempre em nossas memórias. Daqui a trinta anos, quando eles próprios estiverem na cozinha com seus filhos , irão dizer: “Sabe o que meu pai fazia?”. E novos risos virão. Isso é dar significado.”

4. Mediação do sentimento de competência

Vou dar um exemplo: Quando o meu filho estava na educação infantil ele trouxe para casa um desenho feito na sala de aula. Eu elogiei o seu desenho, emoldurei-o e o coloquei na sala, para que todos vissem.

- Incentivar a produção daquilo que eles realizam por mais simples que sejam.

- Mostrar que uma determinada tarefa é fruto parte de sua competência e não de fatores externos (sorte, facilidade da tarefa, ...)

- Isso possibilita o desenvolvimento de um sentimento adequado de acreditar em si mesmo. É importante se sentir competente.

- Dar tarefas que os desafie, mas que estejam ao alcance deles;

- Acreditar em si mesmo é fundamental para se aprender!

Frase que jamais deveremos dizer ao nosso filho: “Você é burro mesmo, heim moleque, quantas vezes eu preciso dizer que não é assim que se faz.”

5. Mediação dos limites

Dar limites é

- É através dos limites que a criança percebe que alguém se preocupa com ela e a protege. Ela percebe que esse alguém é forte, que sabe e tem segurança no que faz.

- Uma criança que cresce sem limites dificilmente irá observar as regras e trabalhar em grupo.

- Contar o caso de um aluno que saiu na sexta-feira e só chegou na segunda.

6. Mediação da modificabilidade

- Heráclito: “ Nenhum homem pisa um rio duas vezes. Ou ele é outro, ou as águas são outras.”

- Educar é acreditar que podemos mudar nossas ações e comportamentos. Mesmo que tenhamos que repetir a mesma coisa mil vezes.

- É um processo trabalhoso, sem dúvida, mas o fazemos porque queremos o melhor para os nossos filhos.

- Música da Gabriela: “Eu nasci assim, eu cresci assim, serei sempre assim, Gabriela.” Esse pensamento é nefasto para a educação dos filhos.

Outra frase terrível: “Você é um caso perdido. Não tem jeito mesmo.”

Acreditar na modificabilidade do ser humano é fundamental e essencial na educação dos filhos.

7. Mediação do sentimento de pertença

- O homem é um ser gregário. Não conseguimos viver sem grupo.

- A família é o porto seguro do filho. É onde ele encontra ninho, aconchego, segurança.

- Durante o dia as aves voam em todas as direções, mas à noite em uma única direção: o ninho.

“Ter um filho é algo que muda a nossa vida de forma inexorável. Dali para a frente, o coração caminhará por caminhos fora do seu corpo. Lembrei-me dos meus sentimentos antigos de pai, diante dos meus filhos adormecidos. Veio-me à mente a imagem de um ninho. Era isso que eu queria ser. Queria que meu corpo fosse um ninho-penugem que protegesse meus filhos.

Que felicidade enche o coração de um pai quando o filho que tem no colo se abandona e adormece!  Adormecida nos braços-ninho do pai, a criança aprende que o universo é um ninho. Não importa que não seja! Não importa que os ninhos estejam todos destinados ao abandono. O ninho é uma fantasia eterna.

É impossível calcular a importância desses momentos efêmeros na vida de uma criança e na vida de um pai. O pai que tem um filho adormecido nos seus braços é um poeta! Um homem que guarda memórias de um ninho na sua alma tem de ser um homem bom. Uma criança que guarda memória de um ninho em sua alma tem ser uma criança calma.” (Rubem Alves)

III – Momento Poético

Vou declamar para vocês um poema belíssimo de Vinicius de Moraes.

Filhos ... Filhos ? / Melhor não tê-los! Mas se não os temos Como sabê-los?

Se não os temos / Quanto silêncio
Como os queremos!

Banho de mar /Diz que é um porrete...
Cônjuge voa  / Transpõe o espaço / Engole água / Fica salgada / Se iodifica
Depois, que boa / Que morenaço / Que a esposa fica!

Resultado: filho

E então começa / A aporrinhação: / Cocô está branco / Cocô está preto / Bebe amoníaco / Comeu botão.
Filhos? Filhos / Melhor não tê-los
Noites de insônia / cabelos brancos prematuros / Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o! Filhos são uns pestinhas / Melhor não tê-los...

Mas se não os temos / Como sabê-lo?
Como saber / Que macieza / Nos seus cabelos /Que cheiro morno
Na sua carne / Que gosto doce / Na sua boca!
Chupam gilete / Bebem xampu / Ateiam fogo / No quarteirão
Porém, que coisa / Que coisa louca / Que coisa linda Que os filhos são!

Um outro poema que merece nossa reflexão foi escrito por Gibran Kalil Gibran:

Vossos filhos não são vossos filhos. 
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma. 
Vêm através de vós, mas não de vós. 
E embora vivam convosco, não vos pertencem. 
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos, 
Porque eles têm seus próprios pensamentos. 
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas; 
Pois suas almas moram na mansão do amanhã, 
Que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho. 
Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas. 
Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa alegria: 
Pois assim como ele ama a flecha que voa, 
Ama também o arco que permanece estável.

Partilha do conteúdo desses dois poemas com os pais.

IV – Imagens Fascinantes para os Pais Educadores

- Farol – Galeano – Ensina-me a ver
Imagem: Farol

- Van Gogh – Incentivador
Imagem: Van Gogh - Incentivador

- Companheiro de brinquedo
Imagem: Globo terrestre

- Semeador
Imagem: O semeador

V – Minha História

Vou partilhar rapidamente com vocês a minha história com o meu filho que nasceu em 1990.

VI – Debate com os Pais

VII – Exercício do Presente

Para finalizar vou realizar o exercício do presente com vocês.

Solicito que todos se levantem e fiquem com a as mãos em concha. Qual presente você gostaria de oferecer para o seu parente que está ao seu lado?

Vou soltar uma música e durante dez segundos você vai pensar nesse presente. Quando eu solicitar, entregue o presente para a pessoa e vice-versa. Depois terminem o exercício com um abraço.